17.7.12

A Falácia da Literatura

Ler torna-se rapidamente um vício.
Quando um ser se torna curioso a um ponto aceitável, entende que o conhecimento não está na música nem nos filmes - está nos livros.
Os livros fazem-nos sonhar, porque nos obrigam a sonhar, a construir mentalmente  o que lemos.

Mas, se ler se tornar um vicio de construção mental, o que acontece ao nosso lado prático da vida? 
O grande problema de mergulharmos no vício da literatura é exactamente esse. É tão belo que nos desliga da realidade. Esta perde o seu interesse porque aprendemos que ela não existe de facto. Aprendemos que nada é real.

O problema é exactamente esse. Apesar de tudo, o nosso corpo físico ainda habita o mundo real, e não o tal outro belo mundo que construímos. 
É então normal que o leitor queira transportar o seu corpo físico para o mundo mental que criou. Mas, com todos sabemos, tal é, por enquanto, impossível.

É aqui que se dá a grande falácia da literatura.
O leitor assíduo, impregnado, acha que o mundo que criou deveria substituir o mundo real porque, para ele, é imensamente mais interessante.
Isto faz com que ele deixe de experiênciar a vida no seu sentido pleno optando, sem entender, por sentir o mundo de uma forma demasiado deslocada comparativamente às pessoas que não agem deste modo.

Em suma, o vício pela literatura afasta demasiado as pessoas do mundo real.
Dá-lhes a crer que este tem infinitamente menos interesse, porque não é exclusivamente delas.
Toda a gente pode habitar o mundo real, ao passo que no nosso mundo só entra quem nós queremos.

Mas por mais belo que seja o nosso mundo privado, com um mundo real tão bonito, isto não deixa de ser uma pena.

Sem comentários:

Enviar um comentário