23.7.13

Julgar Um Livro Pela Capa

A sociedade dita que não devemos julgar alguém pela sua aparência.
Que é insultuosamente superficial fazê-lo.
Que apenas devemos e podemos fruir interesse por alguém depois de a conhecer bem, de entrar em contacto com o seu íntimo.
Que devemos valorizar mais o interior do que o exterior.

Como podemos então explicar que, por vezes, nos apeteça dormir com alguém que acabamos de ver? Mesmo antes de a conhecermos? Por vezes tendo por base uma mera fotografia?
Porque precisamos de ter uma justificação mais plausível do que "a pessoa tem bom aspecto".
Porque desvalorizamos a atracção física deste modo?

Em suma, porque a achamos superficial.

Quando, no fundo, é tudo menos isso.
É complexa.

De modo a não dependermos de valores subjectivos, vou recorrer à ciência, mais precisamente, à biologia evolutiva.
Ela diz-nos que existe uma lógica, uma razão simples para a beleza nos atrair.
Ela promete saúde.

Mas mais do que isso, a beleza promete outra coisa: felicidade.
E mesmo se tratando apenas duma promessa, por vezes é forte demais para nos passar despercebida.

A beleza fascina-nos e, de algum modo misterioso (e quanto mais melhor), nos diz porque queremos estar com alguém de quem pouco ou nada conhecemos.
Neste sentido a beleza não pode ser considerado algo superficial, mas sim complexo.
É fácil ser "giro", mas é complexo ser "bonito", no sentido em que ser "bonito" transcende o aspecto físico de alguém.
No sentido em que, mesmo sem termos consciência, dizemos que alguém é bonito, não apenas pelo seu mero aspecto físico, mas porque algumas particularidades desse mesmo aspecto físico nos estão a revelar algo do interior da pessoa.

Está provado que existem traços exteriores que nos revelam qualidades interiores. E, com tempo, o nosso poder de observação das mesmas apenas tem tendência a melhorar, a se tornar um sistema mais fidigno e implacável de observação.
Há algo num sorriso que nos pode indicar tolerância, sabedoria. Que nos indica que aquele não é apenas um sorriso parvo, feliz, inocente e inconsciente. Que é um sorriso de quem sabe o que faz e o que diz.
Um penteado pode sugerir disciplina, ou falta dela. Pode transmitir uma rigidez inerente à nossa juventude, ou a liberdade de quem quase sempre fez o que queria.
Um mero formato de nariz, mais angular, pode atribuir-nos um ar mais ousado, ou mesmo intrusivo.
Há olhares que tem o poder de nos inquietar ao ponto de nos lembrar-mos deles uma vida, ou o poder de nos acalmar quando tudo parece agitado.

Há traços que nos fazem identificar em alguém, que nos agitam, que nos comovem.
Nem sempre o exterior age apenas como uma máscara superficial do um "eu" interior muito mais rico e profundo.
A aparência contém, muitas vezes, um significado genuíno, intimamente ligado ao interior que comporta.

Sem comentários:

Enviar um comentário