23.7.13

Afinal os Opostos Atraem-se Mesmo

Quando abrimos uma porta, e deixamos alguém entrar, uma das razões pelo qual o fazemos é a de que não sabemos o que esperar.
Precisamos do imprevisto, de alguém que agite a nossa por vezes monótona vida. Alguém que não pense como nós, que não goste exactamente do mesmo, alguém que nos mostre uma versão diferente da vida.

A frase 'os opostos atraem-se' não é um mero cliché, é a maior das verdades.
Procuramos características que não conhecemos e, por óbvia consequência, das quais não somos possuidores.

Seria um tédio partilhar a vida com alguém demasiado parecido connosco. Para isso chegamos nós, e a nossa luta por não cairmos em nós mesmos.
Esta atracção pelo oposto vem de há muito tempo, da infância.
Manifesta-se tanto no amor, como na arte, e em todas as restantes áreas da nossa vida.
Quem teve a benesse duma vida refastelada, sem sobressaltos, tem enorme inclinação para apreciar formas de arte que representem formas complexas, abstractas, confusas, violentas e distorcidas. Como um quadro de Pollock.

Por outro lado, quem levou uma vida agitada, com perturbações no lar e/ou situações familiares desconfortáveis, terá certamente mais propensão para uma calma e apaziguante pintura de Rothko.
Esta atracção pelo oposto manifesta-se de igual modo nas nossas relações, fazendo-nos procurar alguém que nos complemente, que preencha um falha que existe desde que éramos apenas crianças.
Para abrirmos uma porta, temos de reunir condições muito especiais, entre elas a de não termos mais nenhuma aberta. Porquê? Digamos apenas que iria fazer corrente de ar, e isso não é bom.

Mas se para abrir uma porta devemos reunir inúmeras condições para que tudo corra bem, deparamos-nos mais tarde com um problema bem maior: quando chega a altura de fechar essa porta.
Primeiro que tudo temos de entender que, se pensamos em fechar essa porta, nunca deverá ser para abrirmos uma nova num futuro próximo.
Devemos saber viver de portas fechadas tempo suficiente. Vedar o nosso próprio acesso ao exterior. Para quê? Para nos conhecermos melhor, para aprendermos quais as melhores portas a abrir.
Esse processo é, como o leitor deve saber já, penoso.
Para além de penoso é também demorado e extremamente ingrato.
Parece sempre mais longo do que a fase em que estamos apaixonados e tudo corre bem.
Ninguém gosta de redescobrir na pessoa amada um punhado de defeitos que em tempos não foram mais do que as suas qualidades.

O maior problema aqui é exactamente esse: não queremos aceitar a mudança. Não fomos geneticamente preparados para a aceitar de forma tão rápida, por vezes abrupta e imediata. Estamos bem mais preparados para embarcar numa mudança a longo prazo.
Por isso é que, depois do choque, com o tempo, nos vamos sentido melhor.
A pessoa insubstituível não é agora mais do que um ser estranho de que conhecemos todos os defeitos e onde reconhecemos poucas virtudes.

É quase triste.

E seria mesmo triste, não fosse o facto de que chegámos finalmente à fase por que tanto ansiávamos - quando estamos preparados para, depois de um longo processo, fechar a porta.
Chegou finalmente a altura de abrirmos uma nova, de recomeçar.
De partirmos numa nova aventura com começo, meio e, inevitavelmente, fim.
E por isso, estimado leitor, não se preocupe.
Este texto cá o espera, muitas e muitas vezes.

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