22.5.14

Higiene Mental

A maioria das pessoas que conheço tratam de forma eficiente e regrada da sua higiene.
Lavam os dentes, tomam banho, aplicam meia dúzia de cremes que possivelmente nada fazem, e por aí fora…
Quando nos referimos a higiene, é a este seu lado que sempre nos referimos: o da higiene física.
Este texto é sobre o outro lado. O que poucos praticamos, mas que deveríamos praticar, pois é, em dada fase da nossa vida, o lado que mais angústia nos causa.

A vida, sobretudo a citadina, implica um constante bombardeamento de informação (sendo a maioria inútil). Uma espécie de ruído que, pouco a pouco, aprendemos a ignorar.
O problema é que, mesmo que reparemos menos nele, ele está lá, e obriga-nos a um esforço inconsciente para que o possamos ignorar.

Isto esta relacionado com um dos maiores problemas (falhas se quiserem) do ser humano. Não parecemos conseguir desligar das nossas preocupações, mesmo quando vivemos momentos em que nada podemos fazer sobre elas. 
Carregamos diariamente pensamentos que nos ocupam e nos agitam sem necessidade, dos quais gostaríamos de nos ver livres, mas não parecemos conseguir.

Um homem razoável não ignoraria as suas preocupações, mas certamente não pensaria nelas quando tal não fosse necessário - por exemplo, ao passar tempo com a sua família, ou ao tentar repousar.

Nada é mais exaustivo do que a indecisão.
Deveríamos decidir sobre algo, e não voltar atrás com o que decidimos, excepto claro, se formos presenteados com novos factos que possam influenciar a nossa decisão.

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As boas notícias são as seguintes: o mais provável é que as tuas preocupações não sejam tão importantes como pensas. 
Possivelmente são completamente desnecessárias e, se nunca mais pensasses nelas, nada de mal aconteceria.

O facto é que, por falta de preocupações maiores (reais), vamos empilhando pequenas preocupações que nada possuem de verdadeiramente preocupante. 

O universo é indiferente aos nossos problemas. A maioria das outras pessoas também o é. 
Apenas a nós nos interessa essa preocupação... Será ela assim tão preocupante? Possivelmente não. 
Possivelmente não irás morrer por isso, nem ser preso, nem nada de muito grave se irá suceder. O mais provável é que com o tempo isso melhore, ou desapareça mesmo.

E portanto tenho-te a dizer das coisas que mais ouço dizer: não te preocupes. Porque a preocupação ocupa demasiado espaço na nossa vida.

De quantas preocupações que aparentavam ser enormes ainda te recordas? Possivelmente não muitas... Talvez mesmo nenhuma?

Esta fadiga moderna poderia ser de diferentes ordens, como muscular ou intelectual. Mas ambas se regeneram diariamente de forma espantosamente rápida, simplesmente dormindo.
Qual é então a fadiga que nos mói, que mais nos ocupa e angústia?
Sem dúvida, a fadiga emocional.

A fadiga emocional, ao contrário das outras, impede em si o descanso. 
Quantas noites mal passadas não terão tido já as pessoas do nosso mundo por questões emocionais...
Mas como resolver então esta questão? 

Não é fácil...
Os psicólogos têm estudado muito a acção do inconsciente sobre o consciente, mas o oposto foi bastante menos explorado.

Um truque que podemos usar, ao contrário do que parecemos gostar de fazer, é pensar constantemente sobre o assunto. Ocupar todo o nosso consciente com o que nos preocupa para que, ao descansar, o nosso inconsciente tenha mais informação para trabalhar, podendo eventualmente aparecer com melhores soluções. 

O mesmo acontece com o medo.
As pessoas têm medo das mais diferentes coisas. Sejam elas uma doença grave, encontrar a sogra na rua, ou padecer de um novo ataque de ciúmes, o melhor modo de enfrentar o medo é pensar nele. 
Todas as formas de medo se agravam se não as enfrentarmos.

Todos nós procuramos por vezes prazeres fáceis e superficialmente atraentes. Mas são também estes os que mais nos desgastam.
O homem sensato entrega-se aos prazeres da vida, mas apenas até ao ponto em que estes não o desgastem por completo.
Se o fizer, cometerá o erro de estar demasiado exausto para que deles possa usufruir de forma plena.
Os prazeres requintados, por sua vez, apenas nos estão acessíveis se não nos deixarmos desgastar pelos mais básicos.

O maior problema do medo é que age como uma cortina entre o homem e a realidade, impedindo-o de ver claramente e ajuizar correctamente o que nela acontece.


Devemos pensar intensivamente sobre o que nos amedronta. Deste modo os nossos medos tornar-se-ão mais familiares e, consequentemente, como tudo o que nos é familiar, começarão progressivamente a perder interesse.

1 comentário:

  1. Um texto sensato. De que adianta limpar a parte de fora do corpo se a parte interna estiver imunda.

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