23.7.13

O Desejo no Quotidiano

A teoria diz que, num casal, o sexo deverá ser mais frequente, visto que derrotamos a barreira do desconhecido. Mas a possibilidade permanente de termos sexo com o nosso parceiro vai matando o nosso desejo pouco a pouco. Para alem disso, sofrer uma rejeição de alguém com quem partilhamos a vida, é extremamente mais humilhante do que sermos rejeitados por uma miúda numa discoteca que não nos conhece de lado algum.

Crescer, comprar uma casa e ter um ou dois bebés é um caminho tido como padrão nesta sociedade.
E muitos casais assim alegremente o fazem.
E tudo bem.
O problema aparece quando começam a estranhar duas coisas: primeiro a falta de sexo, e depois a falta de desejo pelo sexo.
Isto não deixa de ser curioso porque, obviamente, deveria ser ao contrário.
Mas porque acontece isto?

Está à nossa volta, e é bem mais óbvio do que parece…

O registo quotidiano numa casa acaba por se tornar um processo regrado.
Se ao começo tudo funciona às mil maravilhas, com o tempo este processo torna-se cada vez mais vincado, entrando em confronto directo com o sexo, um acto que deve ser espontâneo e carnal.
Este choque entre as tarefas regradas do dia-a-dia, e a necessidade que o sexo tem de ser algo não premeditado faz com que os casais entrem numa espiral muitas vezes irreversível de deterioração de vida sexual.

E isso leva-nos ao nosso próximo ponto.

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Perdurar

Se isto não será certamente problema para jovens em começo de relação, relações antigas, onde o respeito já substitui em grande parte a paixão e o amor extinguidos, podem e sofrem muito com este problema.
Os nosso desejos sexuais são, muitas vezes, muito diferentes do que a sociedade dita como normais.
E isso não nos chateia.
Mas pode chatear o nosso parceiro.
Sabemos que os nossos pedidos podem ser mal vistos.
É fácil cairmos no erro de não os confiarmos à pessoa com quem partilhamos a nossa vida, com medo de sermos mal interpretados.

Outro factor que nos assombra é o de sentirmos atracção sexual (ou de outra ordem) por pessoas que apenas vemos na rua. Se nós a sentimos, é mais que normal que o nosso parceiro também o sinta.
Se os homens têm vasto repertório nesta secção, as mulheres não ficam longe.
Se uma mulher reconhece valor num homem carinhoso e paciente, não pode negar a atracção sexual que sente por outro homem mais voraz e despido de preconceitos, mesmo quando o seu parceiro tem tudo isto.

O que une o objecto de desejo, em ambos os casos, é a sua indisponibilidade.
O facto de podermos dar a conhecer apenas as nossas qualidades, sem termos de revelar as nossas fraquezas e defeitos.

A solução plausível para este problema seria conseguirmos olhar para o nosso amante como uma novidade constante. Mas como a própria palavra implica e impede, isso não é possível, por maiores que os nossos esforços sejam.

O amante sofre por vezes do complexo de que "nada do que já se conhece tem interesse".
Temos por conseguinte de encontrar de novo a nossa admiração por alguém.
De redescobrir constantemente o nosso ser amado.

E como podemos fazer isso?
Tudo o que apresente uma mudança ou um ciúme, desde que dentro do tolerável.
E como sabemos o que é tolerável para o outro?
Se não sabemos, devíamos.
Devíamos conhecer a pessoa com quem estamos.
É esse o problema de muitos casais.
Terminam não por falta de amor, mas porque não se conhecem para saberem até onde podem ir.
O que muitas vezes não coincide sequer com o "até onde querem ir".

Causar algum ciúme ao nosso parceiro, mudármos volta e meia de aparência e/ou roupa, lermos um novo autor ou ouvirmos um novo estilo de música — todos estes factores podem ajudar a revitalizar uma relação, desde que bem concretizados.

Os chamados ciúmes saudáveis são, de facto, o maior e melhor modo de revitalizar um casal aborrecido pelo desgaste do tempo e da vida conjugal.

E se essa tarefa é tudo menos fácil, mais complicado se torna porque as pessoas insistem em que esse é o caminho normal. Não é, e não tem de ser.

Seria óptimo se o casamento e o sexo pudessem coexistir de forma mais simples, agradável e duradoura, mas não é por o desejarmos que tal acontece. Devemos antes conhecer os melhores meios de ficarmos com a pessoa que amamos o máximo de tempo possível (e fazê-lo de forma agradável para ambos), se for esse o nosso desejo.

Devemos ainda saber que não tem de ser este o caminho. Porque existem outros, cada vez mais aceites socialmente. O importante, no fundo, é que cada pessoa conheça as opções de que dispõe e opte pela com que mais se identifica.

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